Exercícios militares envolvendo norte-americanos na Amazônia não são novidade. Em novembro deste ano, por exemplo, 294 militares do país desembarcaram no Brasil para um treinamento na selva amazônica. A diferença, agora, é que os norte-americanos chegarão à Guiana em meio a uma crise geopolítica entre o país e a Venezuela.
Os dois países disputam há mais de um século Essequibo, uma área de mais de 160 mil km² (pouco maior que o Estado do Ceará) rica em minérios como ouro e diamante, além de petróleo. Nos últimos meses, as tensões aumentaram depois que a Venezuela realizou um referendo sobre a criação de um novo Estado na área em disputa. Essequibo corresponde a 70% do território da Guiana.
A Corte Internacional de Justiça (CIJ), provocada pelo governo guianense, emitiu uma sentença determinando que a Venezuela não poderia tomar medidas para incorporar Essequibo ao seu território. O regime de Nicolás Maduro, no entanto, anunciou não reconhecer a legitimidade da Corte para resolver a disputa.
A preocupação de que a Amazônia seja alvo da atuação de tropas estrangeiras é antiga. Desde o processo de colonização, fortificações portuguesas foram erguidas em diversos pontos da região para evitar o avanço de invasores.
Mais recentemente, essa preocupação se transformou em um dos elementos que une militantes tanto da esquerda quanto da direita brasileira. O principal temor se dá pelo tamanho do poderio bélico norte-americano.
De acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), em 2022, os Estados Unidos foram responsáveis pelo maior gasto militar do mundo, com U$$ 877 bilhões, o equivalente a 39% de todas as despesas militares no planeta.
Durante a ditadura militar (1964-1985), por exemplo, o temor de que a região pudesse ser alvo de algum tipo de intervenção estrangeira foi usado como principal motivo para a criação de projetos de ocupação dali entre os anos 1960 e 1980.
Também foi nesta época que as Forças Armadas brasileiras reforçaram e criaram instalações militares em pontos da fronteira norte do país.
O slogan usado pelo regime, na época, era "integrar para não entregar".
O medo era de que a suposta cobiça internacional pela região pudesse levar a ações de ocupação estrangeira. A Amazônia é responsável por 45% de toda água doce do planeta, além de abrigar a maior floresta tropical do planeta. É uma área rica em biodiversidade e minerais e metais preciosos.
Na época, a preocupação dos militares era tanto com uma possível ocupação da região por alguma superpotência quanto com a ação de grupos contrários ao regime, como a Guerrilha do Araguaia.
Entre 1972 e 1974, um grupo de militantes de esquerda se instalou no interior do Pará com o objetivo de organizar uma guerrilha rural para derrubar a ditadura. O grupo foi derrotado por tropas do Exército.